7.10.06

Instruções de apoio para o trabalho e exemplos

Demorou mais do que eu gostaria a oportunidade para que eu pudesse sanar as últimas dúvidas de vocês, mas finalmente estou podendo redigir este post.

Primeira coisa: relaxem! Vocês estão complicando mais o trabalho do que ele realmente é. A reescritura não é um tratado de pós-graduação, nem estou exigindo de vocês uma linguagem rebuscada. A linguagem que vocês devem usar deve ser coerente com a ambientação que vão dar ao diário, essa é a única exigência. Se vocês planejaram fazer um diário informal, podem fazer uso de uma linguagem informal também, com gírias e abreviações até. Só tenham o cuidado de fazer com que essa informalidade seja coerente, também, de acordo com o perfil desse eu-lírico (a idade dele, por exemplo).

Segundo: como um diário é um texto pessoal, me primeira pessoa, usem essa primeira pessoa sim! Como eu falei em sala, a premissa do trabalho é: como Cecília Meireles teria organizado o planejamento do Romanceiro da Inconfidência durante sua viagem à região de Ouro Preto através de anotações em um diário? Ou seja: à medida que ela conhece o ambiente e o pesquisa, quais são as imagens que ela começa a selecionar para produzir os poemas? É claro que nem tudo que está no planejamento necessariamente está no livro: podem faltar idéias, sobrar ou ela pode, ao longo do diário, mudar de opinião e modificar a forma que havia planejado para produzir um poema X.

Abaixo vou deixar um exemplo para vocês de como organizar um capítulo (data) do diário. Para vocês não se perderem, nele está a reescritura do Romance VIII ou Do Chico-Rei. Por favor, não copiem. A originalidade é um dos critérios de correção do trabalho de vocês. E, lembrando: entrega dia 17/10.

Qualquer dúvida, mandem um comentário por aqui que eu respondo assim que puder.

Até mais,
Bianca


20/04/1940

Os folclores que compõem essa cidade são realmente incríveis. Contaram-me hoje a história do Chico-Rei e ela é tão pitoresca que não poderia deixar de transformar em poema.

Dizem que o Chico-Rei era um escravo do Congo, rei de seu povo e que aqui trabalhou na mineração do ouro. Conseguiu, de algum modo, alforriar o próprio filho, mas ele mesmo, embora fosse um líder dos outros escravos, não conseguiu a própria liberdade.

É interessante... isso de liberdade é tão presente na história e nas estórias daqui! Os homens buscaram o ouro, buscaram os diamantes, buscaram a independência, sempre querendo liberdade, liberdade e sempre sendo sufocados pelos poderosos. Quando penso nisso me vem a imagem de um grande tigre, um tigre que ruge, que assusta, que devora os que tentam alcançar a liberdade... Acho que posso usar isso: o tigre ruge e o Chico-Rei conta sua história, sua falta de liberdade. Talvez eu possa mostrar no fim do poema que todos, no fim das contas, eram explorados, escravos. Cativos.

27 comentários:

Anônimo disse...

Como vou saber as datas???

Professora Bianca disse...

Pode inventar, Breno. Isso faz parte da criação!

Anônimo disse...

Pode dar outro nome pra o dono do diário?

Professora Bianca disse...

Isso não pode, Renata. Tem que ser Cecília.

Anônimo disse...

quantos capitulos são necessários?!

Anônimo disse...

o titulo do trabalho vai ser o mesmo do livro?!

Anônimo disse...

Bianca, não entendi bem o testamento de Marírilia. Tu podia explicar?!

Professora Bianca disse...

Gilberto,
Isso depende da maneira como vocês estruturarem o trabalho. Uma mesma entrada do diário (uma mesma data) pode conter vários romances ou apenas um. Não tenho como estabelecer um limite. Façam tantas entradas (ou capítulos) quantas forem necessárias para que a essência do livro esteja presente no trabalho de vocês.

Professora Bianca disse...

Tiago,
Pode ser o mesmo título sim. E se preferirem, podem deixar apenas como "Trabalho de Literatura" mesmo. Não é comum se dar títulos a diários, mas se vocês quiserem atribuir, sintam-se livres. Cuidado, apenas, para ser um título coerente com a produção de vocês.

Professora Bianca disse...

Carol,
Posso sim, claro.
O Romance LXXXV ou Do testamento de Marília é a imagem que Cecília cria para representar como teria sido o fim de Maria Dorotéia, a Marília de Tomás Antônio Gonzaga. Como eu falei no semestre passado, quando estudamos este autor, e como vocês perceberam o no livro, Gonzaga foi degredado e, no exílio, casou-se. Mas Maria Dorotéia (Marília) permaneceu toda a vida esperando pelo regresso do namorado, sem acreditar no casamento dele com outra mulher.

O fim de Marília é imaginado por Cecília Meireles na produção de um testamento. Primeiro Cecília usa a imagem da pena, pena de escrever, para falar de Marília. Vejam que a pena é triste porque nunca foi usada, assim como o fim de Marília é triste porque nunca se realizou amorosamente. Ela morre na solidão. Além disso, há um outro efeito para a palvra pena: além de mencionar o instrumento de escrever, pena é também sinônimo de sofrimento. O sofrimento deslizou pela vida de Maria Dorotéia assim como a pena desliza sobre o papel, imprimindo, cada um, suas marcas (na vida e no documento).
Depois, lamenta-se a fortuna perdida. De novo Cecília escolheu um vocábulo ambíguo: fortuna também é destino, sorte. As moedas se perderam por ficarem guardadas nos cofres e o destino de Marília se perdeu, por se guardar eternamente para um amante que não vem.
Cecília então reflete porque Marília pararia para escrever um testamento, se a morte, para ela, seria um alívio. Conclui que trata-se de uma "cortesia / de quem diz adeus ao mundo".
Na estrofe seguinte, Marília dá destino à fortuna e conta sua história de amor. Dá, assim, conta de dois destinos: o da fortuna material e o da sua própria fortuna, da sua própria sorte, que deverá servir de elemento de piedade nas missas.
Na última estrofe, Cecília conclui falando do que chama de brevidade da vida de longos anos. Maria Dorotéia morreu velha, mas é como se só houvesse vivido durante o período em que era a Marília de Dirceu, ou de Gonzaga. Lamentando, a poeta reflete que esse sofrimento será alvo da piedade ainda de muitas missas e deseja, no fim, que a morte seja apaziguadora, indolor.

Professora Bianca disse...

Pessoas:
Ficarei ausente da web até sábado. Se tiverem dúvidas, postem, mas saibam que provavelmente não poderei responder até lá.
Bom fim de feriado!

Anônimo disse...

Professora, o diario começa a partir dos poemas ou a partir do cenario e da fala inicial??
como posso fazer um diario do cenario e da fala inicial?
da um exemplo.

Anônimo disse...

Bianca,
vc poderia contar sobre o romance LV
por favor
obrigada

Anônimo disse...

Ah,
é necessario quantos dias por romance.
ou vc pode escolher a quantidade de anotações?

Professora Bianca disse...

Anônimo,

O diário inclui os cenários e as falas sim. Você pode misturá-los aos romances ou deixar uma entrada no diário para eles. Essa organização é de livre escolha para vocês.

Professora Bianca disse...

Rebeca,
A quantidade de notas vai de acordo com a organização de vocês. Uma mesma nota pode conter a reescritura de vários poemas, então não tenho como estipular um número mínimo ou máximo para elas.

Sobre o Romance LV ou De um preso chamado Gonzaga: como o próprio título apresenta, este poema tematiza a vida de Tomás Antônio Gonzaga na prisão. Observe que intercalam-se dois tipos de estrofe: uma escrita normalmente e outra com a letra em itálico e que tem suas margens mais para a esquerda. Essa forma de destaque Cecília dá quando intercala vozes líricas dentro de um mesmo poema. Às vezes essas vozes são do eu-lírico e o do personagem tematizado, às vezes são como a voz avaliativa das falas se intercalando com a voz narrativa dos romances. Este último é o caso do Romance LV.

Destaca-se nesse romance também a repetição de um mesmo verso no fim das estrofes "normais". Esse seria, de acordo com a voz narrativa, o pensamento constante de Gonzaga (daí a repetição) durante seu período na prisão. Vejam que aí ele não foi ainda degredado.

Um agravante dessa prisão de Gonzaga, destacado na primeira estrofe, é o fato de ele ser advogado (um magistrado). Esse fato é mais angustiante, pois Gonzaga sabia sua sina: não adiantaria confessar nem ser inocente, nem ser culpado: exílio seria a pena do primeiro, a morte do segundo veredicto. Por isso mesmo, ele reflete, na última estrofe, que não poderia recuperar o amor (de Marília, evidentemente): jamais seria um homem livre no Brasil novamente. E, para tornar a situação mais grave, esse era um preso que do Brasil "nem ouro queria", como repete no texto. Mais uma das nossas contradições: quem lutou pelo bem do país, ao contrário dos que depeneram nossas riquezas, foi punido severamente. E infelizmente a coisa não mudou muito de lá para cá.

Anônimo disse...

Professora, um colega da sala acabou sobrando dos grupos, nosso grupo está no máximo, poderiamos adotá-lo? xD

Anônimo disse...

Beleza, as datas podem ser inventadas. Mas é permitido inventar um sentimento p/ o eu lírico no momento em que ele escreveu o trecho? E existe um limite de linhas p/ cada converção?

Anônimo disse...

É permitido criar sentimentos p/ o eu lírico no momento em que ele escreveu o trecho? E existe um limite de linhas p/ cada conversão?

Professora Bianca disse...

Arara,
Tá bom, adotem o bichinho! Mas um desgarrado por sala, tá? :P

Professora Bianca disse...

Hugo,
Podem e devem! Vai ficar extremamente realista se vocês fizerem isso! Eu fico contente com a iniciativa!
Sem limites de linha, façam quantas forem necessárias.

Anônimo disse...

Eu sei que não é um trabalho de pós-graduação como você já disse. Mas sobre a estrutura do trabalho:é imoprtante faser com folha e rosto, índice, introdução, número de páginas, conclusão, etc?
E é preciso colocar capa ou até espiralar?

Anônimo disse...

Bianca!!
Você poderia me explicar os romances XI e o XX?? Por favor!!! Só me faltam esses!!
Obrigada

Anônimo disse...

Professora, Gostaria de saber como poderia introduzir as partes "Cenário" no diário. Faria uma nota só pra ele, ou misturaria com os acontecimentos?

Professora Bianca disse...

Hugo,
Não precisa de folha de rosto, índice nem dos outros elementos de trabalho acadêmico. Esta não é uma atividade de pesquisa tradiional, portanto esses elementos são desnecessários e até incoerentes com a atividade.

Professora Bianca disse...

Arara,
Você escolhe. Uma forma ou outra podem ser aproveitadas, depende só da sua imaginação.

Professora Bianca disse...

Júlia,
Ok, vamos lá.


O romance XI é mais um dos "romances folclóricos" do ciclo do ouro. Nele Cecília apresenta uma das histórias tradicionais da região, transmitidas oralmente, de geração em geração. Nessa, especificamente, se fala de uma donzela cobiçada pelo Ouvidor Bacelar. Ouvidor era um cargo administrativo de certa importância.

O romance continua apresentando esse causo: o que aconteceu com o Ouvidor Bacelar e a donzela por quem havia se enamorado. A tropa, de que fala a penúltima estrofe, é tropa militar, que deve, provavelmente, ter acudido à quase tragédia. O Tejuco, da última estrofe, é o rio, mas lá faz referência aos habitantes de suas margens. Observe, nos dois últimos versos, as antíteses como criam uma bela imagem: subir x descer, punhal x flor.

O romance XX fala da criação das arcádias, aquelas academias de arte de que falamos quando estudamos o movimento. A Arcádia é um verdadeiro país, não apenas por ser invenção estrangeira que copiamos, mas também por ser uma realidade ideal, distante da vivenciada pelos seus criadores.

Neste romance se destacam elementos que fazem menção às próprias caracterísitcas do movimento árcade: Sorte, ou destino, emoção campestre, aljava (ou alijava, o recipiente que os arqueiros usam, pendurado em suas costas, para guardar as flechas... flechas de amor, no caso, o que nos faz lembrar um certo alguém mitológico), zéfiro, luz (símbolo do próprio Iluminismo), ovelhas, flautas.
De certa forma, até a penúltima estrofe, é como se Cecília caracterizasse a vida dentro desse "país" maravilhoso, até que alguma coisa acontece. Uma tormenta (tempestade) enegrece o céu do "país arcádia". Simbolicamente, há uma referência aí a um evento histórico. Qual é ele, é só pensar um pouco. Essa tormenta e o tempo transformam o "leque" que simbolizou a Arcádia inicialmente em um leque partido, destruído. Observe que isso é dito em uma daquelas estrofes diferentes, com margem recuada e em itálico. Trata-se de uma intervenção da voz reflexiva, no poema, que avalia o que foi relatado pela primeira voz.