26.12.07

“A (IN)UTILIDADE DA ARTE”

Oi, pedaços de carvão!

Sejam bem vindos(as)! Espero que esse espaço continue a servir de ponte entre nós, como, há alguns anos, ele já tem feito. Que essa ponte não seja apenas para transpor dificuldades, sanar dúvidas, mas também para nos aproximar também. Venho aqui não só como professora, mas como amiga também, disposta a ajudar vocês no que precisarem.

Para começar bem do comecinho, vou deixar um texto para ajudar na reflexão sobre "o que é e para quê estudar literatura?". É de Maria José Justino e foi publicado no livro Para Filosofar (da Editora Scipione, 3ª ed.). O texto todo se chama A admirável complexidade da arte, mas ele não está reproduzido integralmente aqui. O que você vai encontrar abaixo é uma parte desse texto, que tem um subtítulo: "A (in)utilidade da arte". Bom proveito!


Embora haja aceitação de que todos possam entender arte, outras perguntas permanecem: Para que serve a arte? O homem pode dispensá-la? A arte pode mudar o nosso comportamento?
(…)

O que significa este quadro?; O que este poema quer dizer. Estas interrogações são comuns diante de certas obras de arte.

Duas são as razões que impedem ou dificultam a comunicação entre o artista e o público. Uma se dá pelo fato de a obra apresentar o novo, o inusitado, que nem sempre é percebido de imediato. Outra, pelo fato de a arte se expressar numa linguagem especial: a dos sons, a das cores, a da poesia, ou seja, numa linguagem que escapa à camisa de força do racional. (…).

Muitos já endossaram esta idéia: “a arte começa onde a função termina”. De fato, ninguém tem necessidade de que uma poltrona seja artística ou bela para que possa nela se acomodar. (…)

A presença da arte parece indicar a insistência do homem em não abrir mão da inutilidade, o princípio do prazer superando o princípio utilitarista. É uma forma de afirmar a capacidade do devaneio e da imaginação. (…) De fato, se o homem fosse reduzido às suas necessidades primárias ou à dimensão utilitária, ele seria apenas um animal ou um monstro. Para responder sobre a eficácia da pintura de Tarsila do Amaral ou da música de Villa-Lobos, teríamos de admitir que, do ponto de vista prático, não servem para nada, são objetos inúteis (…); de outro ponto, situado acima dessa praticidade imediatista, a arte é a própria humanização e a nossa sensibilidade. Solicitamos da arte algo além do princípio prático, mas não apenas a beleza: queremos dela algo mais vital, mais próximo à emoção e ao prazer.


E para pensar mais um pouco:

"Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar. Por essa razão escrevo.”
Caio Fernando Abreu