31.8.07

Fichas 2 e 3 - Respostas dos exercícios sobre Camões

Ficha 2


Questão 1


Esta questão, assim como as demais desta ficha, exercitam a percepção das noções sobre amor-neoplatônico e amor-sensual que vemos desde o primeiro dia de aula do semestre. O item A questiona com qual dos tipos de realidade, a sensível (realidade em que se realiza o amor sensual) ou a inteligível (plano em que se realiza o amor neoplatõnico) o pedido para ver a mulher amada expressa. Ver é uma ação que depende dos sentidos, o que significa que se relaciona com o plano físico. Portanto, é uma ação sensível, isto é, ligada o mundo físico, das sensções.

O item B, por sua vez, questiona a certeza que o eu lírico tem a respeito do desejo de ver a amada. No questionamento, foi ressaltada a expressão "não sabe o que deseja". Se o eu lírico não sabe o que deseja, é lógico que ele está inseguro quanto ao seu desejo. O motivo da insegurança está em outro verso, também destacado no enunciado: "amor tão fino e tão delgado". Delgado, neste verso, tem o sentido de delicado. O amor que o eu lírico sente, portanto, é um amor delicado, puro, ou que pelo menos deseja se manter assim.


Questão 2

A partir da inversão do hipérbato (ou melhor, da desinversão do hipérbato), duas construções são possíveis: O desejo não quer logo o desejado e O desejado não quer logo o desejo. Como esta segunda é incoerente, percebemos que o que Camões afirma no verso, levando-se em consideração o contexto dele na estrofe, é que para manter perpétuo o estado do amor, ele não deve logo ser concretizado. O desejado, no poema, é a mulher amada, aquela a quem ele pediu para ver. E ele a rejeita, usando uma expressão do poema "por que não falte nunca onde sobeja", isto é, para que não falte nunca aquilo que sobra. Ele não quer vê-la (querendo) por que se ele não a vir, o desejo de vê-la vai se manter. Quanto mais longo o processo de conquista, quanto mais longa a ausência, maior é a saudade e maior é a felicidade de se ter quem se ama.


Questão 3

O item A relaciona a comparação que Camões fez entre o amor e a pedra que cai. Cair, para uma pedra, é uma ação inevitável, pois faz parte dos acontecimentos naturais. É lei da natureza que as coisas sejam atraídas para o chão. Portanto, para respoder a esta questão, é preciso refletir o que o texto afirmou ser inevitável, natural, para o amor. Além disso, a queda também tem uma conotação negativa. Cair significa falhar, não atingir o alto.

Considerando-se, então, tanto a naturalidade, a impossibilidade de agir contra a tal força e sua conotação negativa, a queda do amor é sua transformação em amor sensual.

O item B questiona qual é a solicitação que se faz no poema que ilustra essa transformação. No fim do poema, percebe-se que, indiretamente o eu lírico solicitou à mulher amada para vê-la, ou seja, não resistiu ao desejo, sucumbindo às leis naturais da relação amorosas (e, para os neoplatonistas, sucumbiu a uma baixeza, retirando do amor do plano perfeito das idéias).

O item C, por fim procura saber qual é a força natural que conduz o amor à queda. Trata-se do desejo físico pela mulher amada, que atrai o eu lírico a ela como atrai uma pedra ao chão.




Ficha 3



Sobre os textos 1 e 2


Questão 1 - O texto 1 foi escrito em medida velha e o texto 2 em medida nova.

Questão 2 - O texto 1 apresenta uma mulher mais concreta, pois revela suas características físicas e sua identidade, através de um nome, elementos que não apareceram no texto 2. Neste último nada sobre a mulher foi revelado.

Questão 3 - O texto 1. Nele as repetições estão marcadas no final de cada estrofe, como um refrão. Trata-se de um recurso típico dos textos medievais.

Questão 4 - Considerando-se as rimas toantes (imperfeitas), o esquema de rimas do texto 1 é: ABB ACCAABB CDDCCBB. O do texto 2 é: ABBA ABBA CDE CDE

Questão 5 - O raciocínio lógico é mais importante no texto 2. O texto 1 não passou por etapas lógicas de raciocínio, com princípio, meio e fim. Ele apenas descreve as roupas de Lianor que caminha descalça para a fonte através da relva ou grama. A ordem da descrição: pelos cabelos, mãos, roupas, não tem importância para a compreensão do texto. Já o texto 2 apresenta um raciocínio com início, meio e fim em que relações de causa e conseqüência estão bem marcadas.



Exercícios


Questão 1

Esta questão revê o conceito de paráfrase, que estudamos no primeiro semestre. A paráfrase é a relação de intertextualidade em que há uma relação harmônica entre os dois textos que se relacionam. No caso do texto de Sophia de Mello Breyner Andresen, a paráfrase da visão de amor camoniana é a do amor neoplatônico. Isto se comprova especialmente na conceituação do amor como um "lugar de imperfeição", que reflete a visão neoplatônica de que o mundo físico é imperfeito (e por isso inferior ao mundo inteligível), e no medo de sucumbir ao amor no plano da imperfeição manifesto na passagem"terror de te amar". O eu lírico tem medo de cair na baixeza (como afirmou Camões no poema do exercício da ficha anterior) do amor físico.


Questão 2

Falso - Não há a manifestação do desejo físico nestes versos, mas sim o culto ao amor idéia, visto que a relação amorosa se dá na imaginação.

Verdadeiro - A matéria é um elemento físico, que busca uma realização através daquilo que lhe dá consistência, a forma. Se o amor como matéria simples busca a forma, é porque ele precisa da realização no plano concreto, sensível.

Verdadeiro - Esta é a premissa que se estabelece nos quartetos, nos quais o poeta diz que de tanto pensar na pessoa amada, ela se torna uma parte dele e, sendo assim, ele não precisa tê-la no plano físico, pois já a tem como parte de sua alma.

Verdadeiro - O que acontece "por virtude do muito imaginar" acontece na relação do amador com a coisa amada.

Falso - O primeiro verso afirma apenas que no amor os amantes acabam se transformando no outro. Não houve nenhuma referência à busca pela perfeição, mas sim à busca pela incorporação do amado.




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