Olá pessoas,
Desculpem a ausência, mas estou me recuperando de uma crise brabinha de asma. Como ficou prometido um material sobre O Guarani para a aula de sábado, e promessa é dívida, olha os slides aí.
E antes que alguém se sinta seguro: é CLARO que o resumo NÃO está completo e é CLARO que só estudar por aqui NÃO é o suficiente para fazer a semestral. LEIAM o livro! : )
Beijinhos e até amanhã!
O Guarani é um livro que se insere, mutuamente, na classificação de indianista e histórica da prosa romântica. A produção do Romantismo em prosa não tem classificação em gerações, mas sim em temas: prosa urbana (ou de costumes), regionalista, histórica e indianista. O Guarani se encaixa nestas últimas duas porque recria elementos da história do Brasil (D. Antônio Mariz, por exemplo, realmente existiu, e se retirou do Rio de Janeiro para a Paraíba quando Portugal perdeu a independência e ingressou na União Ibérica) e faz a exaltação do índio "bom selvagem". Sendo um romance, apresenta várias inovações estruturais em relação aos textos narrativos que fizeram parte da Era Clássica da Literatura. Vamos relembrá-los:
Gêneros Literários da Era Clássica da Literatura:
· lírico
· dramático
· épico
Gêneros Literários da Era Moderna da Literatura:
· lírico
· dramático
· épico
· narrativo (romance, novela, conto, crônica)
Romance x Epopéia:
Estrutura:
1. Romance: prosa e capítulos
2. Epopéia: versos e cantos
Conteúdo:
1. Romance: variado, visa satisfazer a imaginação do leitor
2. Epopéia: texto de cunho nacionalista
Herói:
1. Romance: símbolo de humanidade, através da conquista individual satisfaz o desejo de conquista individual do leitor, através da cartase
2. Epopéia: símbolo da civilização, através da conquista individual promove uma conquista coletiva, satisfazendo o desejo de identidade nacional do seu povo.
Para ficar bem clara essa distinção em termos de conteúdo e da posição de herói, deixem-me esmiuçar esses elementos. A epopéia, como estudamos, é um texto que serve, principalmente, para se exaltar os feitos de uma nação, através da conquista de um herói que simboliza essa nação. Assim, quando Vasco da Gama conquista o oceano Atlântico em Os Lusíadas, a vitória não é só de Gama, mas de Portugal. O romance, porém, é individualista. Seu compromisso não é com uma nação, mas com o seu leitor. Por isso, é importante para ele que seus personagens possam projetar identificação não pelos leitores de uma nação apenas, mas por qualquer ser humano. É por isso que um romance inglês, francês ou alemão vão fazer sucesso em vários outros países: porque neles não se reconhece os conflitos que envolvem uma nação, mas os conflitos que envolvem qualquer ser humano. A conquista do herói romântico é individual, e, ao mesmo tempo, representa a satisfação do objetivo de qualquer pessoa. Peri, por exemplo, tem como único objetivo, em O Guarani, conquistar Cecília. É uma conquista individual, apenas, mas que representa o anseio de qualquer pessoa, de conquistar o amor de quem se gosta.
Sabendo disso, vamos aos elementos da obra e seu enredo.
1. Tempo: cronológico, em 1604, durante o período em que Portugal perde a independência política e forma a União Ibérica com a Espanha.
2. Espaço: estado da Paraíba, às margens do Rio Paquequer, afluente do rio Paraíba.
3. Narrador: onisciente, em 3ª pessoa.
4. Enredo: No início do século XVII, um dos fundadores do Rio de Janeiro, o fidalgo português D. Antônio de Mariz, em protesto contra a dominação espanhola (1580-1640), estabelece-se em plena floresta, construindo um verdadeiro castelo medieval, onde mora com sua família. Junto à sua casa, vive um bando de mais ou menos quarenta aventureiros. Estes homens entram no sertão, fazendo o contrabando de ouro e pedras preciosas e deixam-lhe um percentual.
Deles destacam-se dois: Álvaro de Sá, que ama respeitosamente Cecília ( e é amado por Isabel), e Loredano.
Um dia, Cecília é salva pelo índio Peri, um jovem cacique. Peri passa a viver então junto a eles, numa pequena cabana, pois tivera uma visão de Nossa Senhora, a qual lhe ordenara que a servisse e Ceci tinha as mesmas feições da Virgem Maria. Ceci sente medo do índio, mas depois de vários feitos que demonstram a devoção do índio percebe seu espírito nobre ("É um cavalheiro europeu no corpo de um selvagem").
Certo dia, por acidente, D. Diogo mata a filha do cacique dos aimorés. Os aimorés ("povo sem pátria e sem religião") querem vingança, exigindo em troca a vida de Ceci.
Peri, fiel aos portugueses, parte para o acampamento dos inimigos. Lá é preso e levado para o ritual antropofágico, mas ingere então poderosa dose de curare, um veneno terrível, pois, assim, quando os selvagens o devorassem, morreriam todos. É resgatado por Álvaro de Sá e diante da exigência de Ceci que ele tente se salvar, vaga pela floresta até encontrar o antídoto.
Loredano se amotina com os capangas e planeja matar toda a família, mas é desmascarado por Peri. Sem alternativa de resistência, D. Antônio chama o índio e diz que, se este se tornasse cristão, lhe confiaria a filha para que tentasse levá-la à civilização. O herói aceita e foge então com Ceci para o rio Paquequer onde escondera uma canoa. Ouve-se uma grande explosão.
Elemento de destaque na obra: o papel de índio
A leitura de O guarani seria superficial sem uma reflexão sobre a ideologia sobre a identidade indígena apresentada na obra. Há três elementos indígenas no texto de Alencar, que vão se chocar ideologicamente, representando aquilo que a sociedade do século XIX vai aceitar e condenar, ou seja, refletindo o que se entendia que seria o bom índio, que deve ser aceito, e o índio mau, que deve ser rejeitado. Veja só:
*Peri: protege Cecília, torna-se cristão, volta-se contra os povos indígenas, abandona a floresta (mas não se atreve a ir à cidade).
*Isabel: permanece sempre ao lado dos brancos, civilizada.
*Aimorés: antropófagos, vingativos, terríveis, devem ser mortos.
Assim, o índio aculturado, que vive com os brancos (como Isabel) ou que é a eles subserviente (como Peri é, de forma até religiosa, a Cecília), são os bons índios, por cuja felicidade e sucesso o leitor é levado a torcer. Já o índio "in natura", não aculturado, é o vilão perigoso, que deve ser morto porque é ameaçador. O índio que não sente necessidade de ser como branco ou estar junto a ele é rejeitado na obra e não há mal nenhum em sua morte, afinal ele não passa de um selvagem.
Esta ideologia é fruto histórico do apagamento das marcas de identidade do nosso indígena na literatura brasileira. O índio que começa o Quinhentismo, em sua cultura, alvo de admiração e preconceito, ao mesmo tempo, no Arcadismo se transforma no índio que precisa do homem branco para ser salvo (dos jesuítas, em O Uraguai, ou do pecado e do paganismo, em Caramuru) e, finalmente, no Romantismo, é o índio que se despe de sua cultura por ter um caráter naturalmente bom, e, por isso, é um ser civilizado, com quem se pode conviver harmoniosamente. Aquele que não se encaixar neste perfil é mau, é rejeitado pelo leitor, e terá seu fim trágico assegurado na obra.
Bom, é isso. Espero que ajude a leitura da obra.
Boas provas!
17.6.07
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9 comentários:
Bianca,
quais são as figuras de linguagem que vão cair na prova? e, precisa estudar sobre Vieira?
Ana Beatriz
Ana Beatriz,
Caem gradação, hipérbole e prosopopéia. Padre Vieira não cai.
Bianca
Minha professora favorita! (ehram!)
Me faz o enorme favor de me dizer todo o assunto da linda prova semestral? :D
Yuri,
Mas o que foi que eu fiz? :O
Só comentei o teu comentário sobre a simpatia do trabalhinho de Terra Papagalli! Quem deveria dizer "mas tirasse nota boa" sou eu, seu reclamão! :P
E o blog nem é tão irônico assim: na boa, eu adoro vocês! Vocês são criaturas intrigantes! Como é que às cinco horas da tarde na véspera do simulado de literatura tem gente que ainda não sabe o assunto da prova? :O Mistéeeeeeeeerio!!!
Mas o que vocês não me pedem com carinho de desespero ou de total avoação que eu não faço com um sorriso (a não ser dar ponto, deixar de cobrar leituras indesejadas e de ser chata na correção e trabalhinhos simpáticos e de deixar vocês conversarem na hora da aula e de deixar vocês filarem na prova e de... - essa lista vai ficar meio longa!)?
Classicismo - epopéia - Os lusíadas
Quinhentismo - tudo
Barroco - sátira - Gregório de Matos
Arcadismo - epopéia - Caramuru e O Uraguai
sátira - Cartas Chilenas
Romantismo - 1ª geração - poesia indianista - Gonçalves Dias
3ª geração - poesia abolicionista - Castro Alves
O Guarani
As figuras de linguagem que eu citei a Ana Beatriz!
Como eu frisei umas quinhentas vezes em sala de aula: TUDO, menos o padre Vieira porque eu sou uma professora muito boazinha e compreensiva! :P
Boa sorte amanhã!
ei bianca sobre os proximos livros lira dos vintes anos e noite na taverna. fui comprar e soh tinha os dois num msm livro tem alguma porblema ??
outra coisa bianca pesquisando na internet encontrei os dois livros segue o link pra vc ver se posso ler deles
lira dos vinte anos
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/content/view/full/1127
noite na taverna
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/content/view/full/117
Tulio,
Lira dos Vinte Anos e Noite na Taverna tanto são encontrados separadamente como no mesmo volume. Tanto faz estarem ou não juntos, os livros são os mesmos. Não conheço estes links e estou sem computador em casa no momento, portanto não vou poder consultá-los agora. Meu conselho é você ter o material em casa. Particularmente, não gosto de ler por computador, a concentração na atividade de leitura é bem mais difícil de se alcançar. De antemão este é o meu conselho. Quando eu puder checo os links e respondo aqui, ok?
quais sao as características do romantismo presente nesse livro???
eu presiso estudar isso e e urgente.....
agradeso se responderem....
Anônimo,
As características são muitas: temos a heroína idealizada, a adjetivação subjetiva, o indianismo, o amor neoplatônico, servil, a exaltação da natureza brasileira como grandiosa... Existem muitos textos na web específicos sobre o papel de O Guarani no Romantismo. Com calma você vai encontrar muita coisa legal.
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