Olá pessoinhas,
Último post do ano. Não vou ter como deixar mais nada para vocês, então, quem for fazer final e recuperação, busque outras fontes, porque não vai dar MESMO, infelizmente. Mas bora lá.
Castro Alves é o principal autor da terceira geração do Romantismo, a qual demonstra um movimento para a superação do individualismo sentimental dessa escola literária. Os românticos da geração condoreira deixam para trás o excesso de egocentrismo e descobrem o mundo além do próprio umbigo. Isso se manifestou, na poética castroalvina, principalmente através de dois elementos temáticos: a escravidão e o amor sensual.
Ser escritor romântico no fim do século XIX significava querer uma revolução social, o bem estar dos pobres e oprimidos e no Brasil isso significava ser abolicionista e republicano. Castro Alves abordou essa temática de duas formas: através da poesia épica, a qual estudamos no primeiro semestre, e através da poesia lírica. Neste último caso, existe um eu lírico que observa os sofrimentos de um escravo e que insere o leitor como um visualizador da cena. Às vezes, nessa observação, o eu lírico relata o que o escravo pensa, diz ou lamenta, o que acaba dando uma voz lírica no poema ao próprio personagem escravo. Esse expediente vocês podem encontrar no poema Tirana da escrava, disponível aqui mesmo na rede.
Já no caso da poesia amorosa essa superação do egocentrismo se dá, principalmente, por uma visão menos idealizada da mulher. Menos, eu disse, o que não quer dizer que não há idealização da figura feminina. O fato é que, embora em alguns poemas ainda frágil e pura, destaca-se em Castro Alves uma mulher objetiva, concreta, que corresponde ao desejo do amado, que tem, ela mesma, esse desejo, e que luta pela própria felicidade. Se em alguns textos ainda existe um voyerismo (como em Adormecida), em muitos outros há a realização daquilo que, para os ultra-românticos ficou só na imaginação e para os indianistas não acontecia porque não havia correspondência amorosa. Basta relermos Beijo eterno para isso ficar bem claro.
De Castro Alves é isso. Ficam aqui os comentários da ficha 11, especialmente para o 1º D, que não teve estas questões resolvidas em sala, o meu beijo e o desejo de boa prova. Não esperem a moleza do Conic não viu? :)
Para quem eu não encontrar, Feliz Natal, Feliz Ano Novo, Boas Férias, Bom Carnaval, Feliz Páscoa... Sejam felizes! E deixa eu ir que eu tenho uns trabalhos de literatura para corrigir aqui, sabe?
Beijos!!
Resolução das questões da ficha 11
Questão 1
Eu não lembro se frisei isso na turma D, a última ver este material comigo, mas creio que sim, pois o fiz em todas as turmas. Houve uma falha na estrofação do poema. Todos os versos que reproduzem a fala de Teresa ("E ela, corando, murmurou-me 'adeus', "E ela entre beijos, murmurou-me 'adeus' ") pertencem à estrofe anterior. Assim, a terceira estrofe começa em "Passaram tempos..." e vai até "Ela em soluços murmurou-me..." e a quarta estrofe é composta por todos os versos restantes no poema.
Estando isto bem claro, vamos à análise da terceira e da quarta estrofes. Na terceira, o eu lírico narra que seu relacionamento com Teresa era prazeroso e sensual, e que dura certo tempo, até o momento em que ele tem que viajar, voltar para casa, e eles se separam. Na estrofe seguinte ele relata o que ocorreu quando voltou de viagem: ele flagra Teresa, que se despedira dele "chorando mais que uma criança", com outro homem. Sutilmente o poeta expressa, por sinal, que o flagra foi de um momento de intimidade, já que as vozes deles "preenchiam de amor o azul dos céus". Nesta estrofe, Teresa repete a fala que lhe coube em todo poema, adeus. Mas este adeus é completamente diferente dos anteriores. Não se trata, aí de uma despedida temporária, mas de um adeus definitivo. Rompeu-se, portanto, o relacionamento amoroso dos dois amantes, com um adeus definitivo, já que Teresa substituiu o eu lírico por outro homem.
Este ato de Teresa, por sinal, é a principal diferença que se estabelece entre ela e as outras mulheres que vimos nos textos românticos até então. Teresa não fica eternamente à espera de seu único, grandioso e eterno amor. Ela é uma mulher prática, que encara toma as rédeas da própria vida e busca a própria felicidade. Foi-se um, veio o outro. Além disso, outros elementos que são típicos da mulher castroalvina e que a distinguem da mulher romântica tradicional é o fato de ela ser acessível, corresponder ao amor do eu lírico e de ter identidade concreta e ter voz no texto (semelhante à medida velha camoniana, não?). Estas considerações respondem à nossa questão 2.
Questão 3
Esta observa o uso das aspas no título do texto. Se observarmos o poema, o adeus final, aquele que encerra o relacionamento, é emitido por Teresa. As aspas têm, entre outras, a função de assinalar o discurso direto de um personagem num texto. Se retirarmos as aspas do título, parece que o texto é sobre um adeus dado a uma mulher chamada Teresa, e não feito por ela. Portanto, as aspas assinalam que o papel fundamental nesse texto é o de Teresa, pois o tema é justamente o adeus definitivo que ela dá ao eu lírico. Daí que se poderia dar como título também "O dia em que Teresa me deu um toco".
Questão 4
O gabarito é a letra D, todas as afirmações são verdadeiras. O item que pode levar ao erro, nessa questão, é o último, que é bastante capcioso, por sinal. Lembrem-se que Castro Alves é abolicionista e que deseja, através da sua poesia, levar as pessoas a aderirem à causa da abolição. Portanto, não podemos considerar que há desprezo, por parte dele, pela comoção do homem branco quanto à morte do escravo.
Questão 5
Essa daqui diz respeito ao culto à natureza, característica presente nas três gerações românticas, no texto em questão. Observe que os elementos da natureza estão em harmonia com o ecravo morto, acolhendo-o e lamentando-o. Portanto, a natureza age como berço de acolhimento e paz, que só a morte pôde trazer ao escravo.
Questão 6
A Castro Alves só podemos relacionar os itens 2 e 5. O primeiro diz respeito a Fagundes Varela. As obras principais de Castro Alves são Espumas Flutuantes (lírica), Os escravos (épica) e Gonzaga e a Revolução de Minas (teatro). O terceiro diz respeito a Gonçalves Dias e o quarto a Álvares de Azevedo.
Questão 7
A última questão, bastante capciosa, requer atenção. A resposta está no item D. Castro Alves nunca apresentou a mulher de forma vulgar. Se algum romântico se aproxima disso é Álvares de Azevedo, com as prositutas da face Caliban de sua produção. Mas nem mesmo elas são vulgares, mas sim personagens idealizadas em sua condição marginal. Mais importante, porém, do que entender que o item D é falso é saber porque os outros são verdadeiros. Então acompanhe:
a) A mulher é idealizada no poema em questão. Observe que ela é para ele uma camélia (flor) pálida (frágil) e formosa (bela). Há aquele ideal feminio de fragilidade, de evanescência.
b) O eu lírico está refletindo sobre o valor da vida e da morte. Portanto, há uma reflexão introspectiva, embora o trecho, isoladamente, não dê uma idéia tão clara de dúvida existencial. A UFV, nessa questão, falhou em limitar tanto o excerto, pois ele não expressa com clareza toda idéia que contém.
c) Esse item não gera dúvidas, pois menciona uma característica geral da obra de Castro Alves e também uma facilmente percebida no poema, afinal ele quer boiar no lago virgem que é o seio da mulher amada, ou seja, deseja tocá-lo, deitar-se sobre ele.
e) Também não é um item que gere dúvidas. Ao contrário da segunda geração, nesse poema o autor escolhe exaltar a vida e não a morte.
21.11.07
5.11.07
Romantismo - 1ª e 2ª geração
Pessoas,
Com 165 provas para entregar em 24h obrigatoriamente, senão minha cabeça será extirpada de meus ombros, paro aqui só para cumprir minha promessa e acalmar as senhoritas Beatriz e Ana Beatriz. Postagem sobre Romantismo bem aqui!
Vamos por partes e começando do começo: o contexto histórico.
O Romantismo surge na Europa, como estudamos no primeiro semestre, no fim do século XVIII, com a publicação de Os sofrimentos do jovem Werther, do alemão Goethe. É um movimento contemporâneo à independência dos EUA e à revolução francesa, movimentos que contestam a ordem pré-estabelecida de organização social, levam a burguesia ao poder político e iniciam o século XIX com uma grande fé no futuro da humanidade. Afinal, o que se desejava, depois de um século de Iluminismo, era liberdade, igualdade e fraternidade para todos.
Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, não obstante... Rei morto é rei posto e o homem é o lobo do próprio homem, dizem o ditado. E a burguesia no poder não vai durar tanto tempo assim pregando a igualdade. Se todos forem iguais não existe mais poder, não é verdade.
E o que isso tem a ver com o que estudamos no Brasil? TUDO. Porque depois de lutar pela liberdade dos franceses e gostar muito de fazer isso o que é que os franceses, ou melhor, o francês da mão dentro do colete vai fazer? Napoleão vai levar a liberdade, a igualdade e a fraternidade à toda Europa, claro! Lutar contra os tiranos que oprimem o povo através da guerra e do sofrimento desse mesmo povo lembra um outro tiranozinho que conhecemos bem, não é mesmo? Ou seja: rei e presidente é tudo igual, só muda o nome e o endereço.
Apenas dois reis europeus se mantiveram a salvo de Napoleão: o rei da Inglaterra, protegido pela condição insular de suas terras e D. João VI, que fugiu com toda a corte para cá. No fim das contas, temos que dar graças a Napoleão, porque sem ele não teríamos no século XIX as condições propícias para os avanços sociais que a vinda da família real no proporcionaram, muito menos para os avanços culturais e para o próprio Romantismo brasileiro.
Que condições são essas? Hora, a urbanização do Rio de Janeiro, o investimento na estrutura da do administrativa do Estado, a criação de uma imprensa regular, a possibilidade de se imprimir livros diretamente no Brasil, a criação de cursos superiores de Direito, Belas Artes, Medicina... Vocês não assistem o quadro de Eduardo Bueno no Fantástico não é? :P
É claro que isso são as condições para o Romantismo nascer. Mas o bichinho teve uma incubação meio lenta. A família real chega aqui em 1808. Em 1822 nos tornamos independentes (pelo menos politicamente). Mas Romantismo, Romantismo mesmo, só em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães (aquele que NÃO cai na prova!!!). Isto significa que o Romantismo é contemporâneo, na verdade, do II Reinado, do governo do Imperador D. Pedro II.
Atenção: tudo o que faz parte da vinda da família real portuguesa para o Brasil e do I Reinados, embora historicamente sejam anteriores ao Romantismo são considerados fatos integrantes de seu contexto, pois são elementos primordiais para sua ocorrência aqui.
Visto esses elementos de contexto histórico, vamos para as duas gerações que interessam. E primeiro pela primeira, para sermos bem óbvios aqui.
A primeira geração, também chamada de nacionalista ou indianista (isso quando não é chamada de nacionalista-indianista), tem como elemento de destaque ser nacionalista e indianista! Surpreendente isso, não é? Mas o fato é que o grande diferencial dela são esses temas mesmo. Isso porque no ponto de vista da lírica, da lírica amorosa pura, aquela que não está combinada com nenhum desses dois temas, o que sobra são as características gerais do Romantismo: o culto à natureza, o sentimento de solidão, o amor não revelado pela mulher amada, a idealização dessa mulher... A diferença mais palpável, além da combinação da temática indianista (como em Leito de Folhas Verdes - o poema da ficha, Beatriz e Ana Beatriz, que eu não vou colocar aqui para não tornar este post mais gigantesco do que vai ficar, mas que vocês acham pelo Google, o oráculo moderno) com a amorosa é o fato de que, ao contrário da segunda geração, existe serenidade na melancolia e na tristeza vividas nos textos da primeira geração. Gonçalves Dias até tem um poema em que ele afirma que se morre de amor (literalmente o título é Se se morre de amor), mas em nenhum momento existe o desejo da evasão pela morte. Morbidez é uma coisa exclusiva da segunda geração, ok?
Sobre Dias, duas coisas importantes a serem ressaltadas: é o único autor que estudamos que explora a temática amorosa do ponto de vista feminino (além de ser o único que faz isso do ponto de vista indígena, claro) e é aquele que se preocupa com a musicalidade e o ritmo dos poemas. Para atingir essa sonoridade textual, ele costuma usar a redondilha, a repetição de versos e de palavras e também a de sons de letras. E antes que alguém entre em desespero, NÃO vou cobrar de vocês métrica não. RELAXEM!
Sobre a segunda geração, acho que nem preciso me estender muito. Quem leu Lira dos Vinte Anos e Noite na Taverna já conheceu muito, na prática, do ultra-romantismo, ou mal do século, ou byronianismo, ou spleen. A segunda geração, ao contrário da primeira, ufanista, que acha que o Brasil é um país lindo, literalmente uma agradável terra de palmeiras onde canta o sabiá, não acredita muito nem no presente, quanto mais no futuro. O fato é que a segunda geração tem consicência que há uma discrepância muito grande entre o mundo como ele é e o mundo como os românticos desejam que ele seja: o mundo da igualdade, liberdade e fraternidade para todos. E essa consciência de que a vida não é exatamente tão maravilhosa assim faz com que esse pessoal procure, de todo jeito, fugir da realidade, ensimesmar-se. Já que o mundo não é como eles querem que seja, que se exploda o mundo: os ultra-românticos só querem saber de si, de seus sofrimentos, de suas angústias. E a única coisa que poderia dar alegria a essas criaturas é a realização através do amor.
Contraditoriamente, então, os artistas desse período vão manifestar um grande medo de amar. O amor é lindo no plano das idéias e é melhor que ele fique lá: essa é a atitude dominante desses escritores. Afinal, se ele sair do plano das idéias, que será daquele que só tem essa ilusão para se agarrar, se as coisas não derem certo? Sobra o vício, a bebida, a desilusão completa ou ainda a morte.
Essa incoerência romântica é a criadora das duas mais exploradas faces de Álvares de Azevedo, a face Ariel, a inocente, e a face Caliban, a amoral. As duas são tentativas de abordar a realidade do amor e do sofrimento sob os pontos de vista distintos que os níveis de desespero humano podem atingir. Sobra, ainda, a tal terceira, face, também chamada de irônica ou anti-romântica. Álvares, como todo artista romântico, era exagerado, e como todo ser humano inteligente, conseguia perceber o seu exagero, e como poucos seres humanos inteligentes, era capaz de fazer graça sobre si mesmo. Esse é o grande objetivo de sua face irônica: rir de si mesmo, deixar de lado aquilo que o Romantismo leva a sério demais, ridicularizar o exagero, o sentimentaloidismo, a idealização excessiva. No meio de muitos poetas excelentes, como o meu muito querido Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo se destaca não só pela sua pluralidade, mas também por conseguir ter uma consciência sobre o próprio movimento a que pertencia que nenhum outro manifestou: uma consciência racional e crítica.
É isso, amiguinhos (e hoje, especialmente, amiguinhas). Espero que tenha dado pro gasto. E dêem licença, agora, porque eu tenho que terminar de enlouquecer ali, tá bom? O que sobrar de mim encontra com vocês na quarta-feira.
Bejinhos e boa prova.
PS1. Bia, os livros indicados pela escola são muito bons. Não despere que você vai se dar bem.
PS2. Yuri, não pense que eu esqueci de você enquanto escrevi esse post não, tá? Só que as meninas precisavam de atenção especial hoje. Na próxima eu volto a citar você diretamente, com todo carinho que a sua saudação matinal de segundas e sábados, declarando o quanto você ama a minha aula, merece! :]
Com 165 provas para entregar em 24h obrigatoriamente, senão minha cabeça será extirpada de meus ombros, paro aqui só para cumprir minha promessa e acalmar as senhoritas Beatriz e Ana Beatriz. Postagem sobre Romantismo bem aqui!
Vamos por partes e começando do começo: o contexto histórico.
O Romantismo surge na Europa, como estudamos no primeiro semestre, no fim do século XVIII, com a publicação de Os sofrimentos do jovem Werther, do alemão Goethe. É um movimento contemporâneo à independência dos EUA e à revolução francesa, movimentos que contestam a ordem pré-estabelecida de organização social, levam a burguesia ao poder político e iniciam o século XIX com uma grande fé no futuro da humanidade. Afinal, o que se desejava, depois de um século de Iluminismo, era liberdade, igualdade e fraternidade para todos.
Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, não obstante... Rei morto é rei posto e o homem é o lobo do próprio homem, dizem o ditado. E a burguesia no poder não vai durar tanto tempo assim pregando a igualdade. Se todos forem iguais não existe mais poder, não é verdade.
E o que isso tem a ver com o que estudamos no Brasil? TUDO. Porque depois de lutar pela liberdade dos franceses e gostar muito de fazer isso o que é que os franceses, ou melhor, o francês da mão dentro do colete vai fazer? Napoleão vai levar a liberdade, a igualdade e a fraternidade à toda Europa, claro! Lutar contra os tiranos que oprimem o povo através da guerra e do sofrimento desse mesmo povo lembra um outro tiranozinho que conhecemos bem, não é mesmo? Ou seja: rei e presidente é tudo igual, só muda o nome e o endereço.
Apenas dois reis europeus se mantiveram a salvo de Napoleão: o rei da Inglaterra, protegido pela condição insular de suas terras e D. João VI, que fugiu com toda a corte para cá. No fim das contas, temos que dar graças a Napoleão, porque sem ele não teríamos no século XIX as condições propícias para os avanços sociais que a vinda da família real no proporcionaram, muito menos para os avanços culturais e para o próprio Romantismo brasileiro.
Que condições são essas? Hora, a urbanização do Rio de Janeiro, o investimento na estrutura da do administrativa do Estado, a criação de uma imprensa regular, a possibilidade de se imprimir livros diretamente no Brasil, a criação de cursos superiores de Direito, Belas Artes, Medicina... Vocês não assistem o quadro de Eduardo Bueno no Fantástico não é? :P
É claro que isso são as condições para o Romantismo nascer. Mas o bichinho teve uma incubação meio lenta. A família real chega aqui em 1808. Em 1822 nos tornamos independentes (pelo menos politicamente). Mas Romantismo, Romantismo mesmo, só em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães (aquele que NÃO cai na prova!!!). Isto significa que o Romantismo é contemporâneo, na verdade, do II Reinado, do governo do Imperador D. Pedro II.
Atenção: tudo o que faz parte da vinda da família real portuguesa para o Brasil e do I Reinados, embora historicamente sejam anteriores ao Romantismo são considerados fatos integrantes de seu contexto, pois são elementos primordiais para sua ocorrência aqui.
Visto esses elementos de contexto histórico, vamos para as duas gerações que interessam. E primeiro pela primeira, para sermos bem óbvios aqui.
A primeira geração, também chamada de nacionalista ou indianista (isso quando não é chamada de nacionalista-indianista), tem como elemento de destaque ser nacionalista e indianista! Surpreendente isso, não é? Mas o fato é que o grande diferencial dela são esses temas mesmo. Isso porque no ponto de vista da lírica, da lírica amorosa pura, aquela que não está combinada com nenhum desses dois temas, o que sobra são as características gerais do Romantismo: o culto à natureza, o sentimento de solidão, o amor não revelado pela mulher amada, a idealização dessa mulher... A diferença mais palpável, além da combinação da temática indianista (como em Leito de Folhas Verdes - o poema da ficha, Beatriz e Ana Beatriz, que eu não vou colocar aqui para não tornar este post mais gigantesco do que vai ficar, mas que vocês acham pelo Google, o oráculo moderno) com a amorosa é o fato de que, ao contrário da segunda geração, existe serenidade na melancolia e na tristeza vividas nos textos da primeira geração. Gonçalves Dias até tem um poema em que ele afirma que se morre de amor (literalmente o título é Se se morre de amor), mas em nenhum momento existe o desejo da evasão pela morte. Morbidez é uma coisa exclusiva da segunda geração, ok?
Sobre Dias, duas coisas importantes a serem ressaltadas: é o único autor que estudamos que explora a temática amorosa do ponto de vista feminino (além de ser o único que faz isso do ponto de vista indígena, claro) e é aquele que se preocupa com a musicalidade e o ritmo dos poemas. Para atingir essa sonoridade textual, ele costuma usar a redondilha, a repetição de versos e de palavras e também a de sons de letras. E antes que alguém entre em desespero, NÃO vou cobrar de vocês métrica não. RELAXEM!
Sobre a segunda geração, acho que nem preciso me estender muito. Quem leu Lira dos Vinte Anos e Noite na Taverna já conheceu muito, na prática, do ultra-romantismo, ou mal do século, ou byronianismo, ou spleen. A segunda geração, ao contrário da primeira, ufanista, que acha que o Brasil é um país lindo, literalmente uma agradável terra de palmeiras onde canta o sabiá, não acredita muito nem no presente, quanto mais no futuro. O fato é que a segunda geração tem consicência que há uma discrepância muito grande entre o mundo como ele é e o mundo como os românticos desejam que ele seja: o mundo da igualdade, liberdade e fraternidade para todos. E essa consciência de que a vida não é exatamente tão maravilhosa assim faz com que esse pessoal procure, de todo jeito, fugir da realidade, ensimesmar-se. Já que o mundo não é como eles querem que seja, que se exploda o mundo: os ultra-românticos só querem saber de si, de seus sofrimentos, de suas angústias. E a única coisa que poderia dar alegria a essas criaturas é a realização através do amor.
Contraditoriamente, então, os artistas desse período vão manifestar um grande medo de amar. O amor é lindo no plano das idéias e é melhor que ele fique lá: essa é a atitude dominante desses escritores. Afinal, se ele sair do plano das idéias, que será daquele que só tem essa ilusão para se agarrar, se as coisas não derem certo? Sobra o vício, a bebida, a desilusão completa ou ainda a morte.
Essa incoerência romântica é a criadora das duas mais exploradas faces de Álvares de Azevedo, a face Ariel, a inocente, e a face Caliban, a amoral. As duas são tentativas de abordar a realidade do amor e do sofrimento sob os pontos de vista distintos que os níveis de desespero humano podem atingir. Sobra, ainda, a tal terceira, face, também chamada de irônica ou anti-romântica. Álvares, como todo artista romântico, era exagerado, e como todo ser humano inteligente, conseguia perceber o seu exagero, e como poucos seres humanos inteligentes, era capaz de fazer graça sobre si mesmo. Esse é o grande objetivo de sua face irônica: rir de si mesmo, deixar de lado aquilo que o Romantismo leva a sério demais, ridicularizar o exagero, o sentimentaloidismo, a idealização excessiva. No meio de muitos poetas excelentes, como o meu muito querido Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo se destaca não só pela sua pluralidade, mas também por conseguir ter uma consciência sobre o próprio movimento a que pertencia que nenhum outro manifestou: uma consciência racional e crítica.
É isso, amiguinhos (e hoje, especialmente, amiguinhas). Espero que tenha dado pro gasto. E dêem licença, agora, porque eu tenho que terminar de enlouquecer ali, tá bom? O que sobrar de mim encontra com vocês na quarta-feira.
Bejinhos e boa prova.
PS1. Bia, os livros indicados pela escola são muito bons. Não despere que você vai se dar bem.
PS2. Yuri, não pense que eu esqueci de você enquanto escrevi esse post não, tá? Só que as meninas precisavam de atenção especial hoje. Na próxima eu volto a citar você diretamente, com todo carinho que a sua saudação matinal de segundas e sábados, declarando o quanto você ama a minha aula, merece! :]
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